Picadas de escorpiões diminuem, mas ainda preocupam; especialistas orientam população

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    Salvador registra uma tendência de diminuição nos casos de acidentes com escorpiões nesta época do ano, segundo dados parciais apresentados pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS). De acordo com o levantamento, em 2020 foram registrados 18 casos, contra 30 em 2019 e 53 em 2018.

    Apesar disto, encontrar escorpiões em áreas urbanas tem se tornado frequente. A jornalista Iasmyn Gordiano, 25, conta que se assustou ao se deparar com um no banheiro de casa, no bairro da Barra. “Meu primeiro pensamento foi nos meus primos que moram comigo. Se eu quase não vejo, eles que são crianças poderiam ter sido picados mais facilmente ainda”, explica.

    Por não saber o que fazer com o escorpião ou que órgão chamar para ajudar no resgate, Iasmyn utilizou spray de veneno para matar o animal e o descartou em uma área de mata próxima do prédio onde mora. “Não sei se foi o certo, mas foi a única coisa que consegui pensar”, conta ela, acrescentando que esta foi a primeira vez que um escorpião apareceu no local.

    O receio da jornalista em relação aos riscos que o animal poderia causar nos primos faz sentido. A doutora em Ecologia e pesquisadora na área de artrópodes do Centro de Ecologia e Conservação Animal (Ecoa), Katia Benati, explica que as crianças e os idosos são os mais vulneráveis à picada do escorpião.

    “Os acidentes podem ser considerados leves, moderados ou graves e são mais intensos em crianças pequenas e idosos. Os primeiros, por não terem o sistema imunológico totalmente formado, e o segundo, por já ter o sistema mais debilitado. Alguns podem levar a óbito se não forem socorridos a tempo”, esclarece.

    Ao todo, 21.383 baianos foram picados por escorpiões em 2019. Até junho de 2020, foram registrados 8.181 casos em todo o estado, conforme dados enviados pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab).

    Kátia Benati alerta ainda que não é necessário matar o escorpião, caso não ofereça grande risco para as pessoas. “O ideal é pedir que alguém mais calmo possa retirar o animal usando um pote. Coloque um pote transparente sobre ele e passe uma folha de papel por baixo para retirar, depois tampe o pote e leve ele para um local distante”, orienta.

    A frequência maior se dá, geralmente, no período de dezembro a março, de clima quente e úmido, que resulta em escassez de alimento e desabrigo para estes animais, fazendo com que se aproximem do ambiente doméstico.

    Uma vez picado

    Em caso de acidente, Katia explica que o ideal é ir imediatamente ao centro médico de emergência mais próximo, para tomar o soro antiescorpiônico ou antiaracnídico. “De preferência, levando o animal (vivo ou não). Isso facilita o trabalho dos médicos na aplicação do soro mais eficiente”.

    O Centro Antiveneno da Bahia (Ciave), localizado no bairro do Cabula, é um local de referência para oferecer maiores informações em caso de acidente.

    A Sesab recomenda também lavar o local da picada com água e sabão, evitar se movimentar muito e buscar imediatamente uma unidade de saúde mais próxima.

    Causas

    O escorpião, assim como os outros animais, já existiam e habitavam a cidade antes dos humanos, por isso, não são eles que trazem risco, nós que invadimos os espaços deles. É o que explica Katia: “a expansão imobiliária está relacionada ao processo de urbanização, que leva ao aumento do desmatamento de vários ambientes e com isso, muitos animais, como os escorpiões, passaram a ocupar o ambiente urbano”, salienta.

    A Sesab diz que os acidentes acontecem em decorrência do desmatamento e problemas de saneamento básico – principalmente esgotos a céu aberto; acúmulo de lixo, entulho e restos de material de construção – e da grande capacidade deste animal em se adaptar ao ambiente doméstico, onde encontram facilmente abrigo e alimento e se reproduzem com facilidade.

    Questionada sobre o que tem sido feito para evitar a proliferação, a secretaria municipal explicou que existe um programa no Centro de Controle de Zoonoses (CZZ), que desenvolve as atividades de vigilância durante todo o ano para acompanhar a incidência de escorpiões.

    Conforme a SMS, as residências notificadas com presença de escorpião são avaliadas e inspecionadas e, em seguida, é feita uma busca ativa, para coleta de escorpiões que possam estar escondidos dentro e fora do imóvel.

    Fonte:ATarde