‘Nesse ambiente de muita hostilidade, a universidade precisa mostrar sua cara’, diz reitor da Ufba

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O reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), João Carlos Salles, comentou o atual momento da educação no país em maio ao anúncio de contingenciamento de verbas. Segundo o gestor da instituição de ensino, o corte de 18,32% no orçamento prevê redução de quase R$ 30 milhões no montante de despesas discricionárias da universidade.

Em entrevista a Mário Kertész hoje (19), durante o Jornal da Bahia no Ar da Rádio Metrópole, ele comparou as gestões no Ministério da Educação, antes ocupado por Abraham Weintraub e agora por Milton Ribeiro. “Em meio a tanta dificuldade que a universidade vive, o congresso é um alento e uma amostra de quem nós somos”, disse Salles, citando o congresso virtual da Ufba deste ano.

“Estamos com uma lei orçamentária que ameaça cortar R$ 30 milhões do custeio da universidade e mais R$ 6,5 milhões da assistência estudantil. Talvez as pessoas não tenham ideia da gravidade do momento. Saiu o ministro do Twitter, o que fazia agressões diretas pelo Twitter e agora vivemos o que chamo de polidez destrutiva. Com um certo silêncio, vai se operando uma destruição. Retirar do orçamento da universidade, com estudantes vulneráveis como temos, R$ 6,5 milhões é deixar cerca de 900 estudantes desassistidos, se formos fazer a contabilidade. Nesse ambiente de muita hostilidade, a universidade precisa mostrar sua cara, quem ela é, o que fazemos, quem nós somos, como um lugar de ciência, cultura e arte”, comentou.

João Carlos Salles também comentou o negacionismo que rodeia a pandemia de Covid-19 e é fomentado pelo governo federal. O reitor citou a fala da diretora do Hospital Couto Maia, Ceuci Nunes, que fez um desabafo na Rádio Metrópole sobre a alta de casos de coronavírus. “Eu fiquei muito tocado pela fala de Ceuci, que está na linha de frente enfrentando essa situação. A gente se surpreende com o negacionismo e o obscurantismo. A gente pode ficar indignado, mas não surpresos. Essa é a nossa história”, afirmou o reitor.

“Temos uma ditadura recentíssima. Temos acólitos defensores de medidas autoritárias, pessoas reativas. Uma camada média reativa à instrução que vê somente como um instrumento para obter recursos, não percebe a importância de uma cultura mais ampla. Não é para surpreender que a universidade seja um alvo disso tudo, é exatamente um lugar onde a produção do conhecimento não é um conhecimento somente de finalidade prática, mas que envolve também uma formação mais ampla e cidadã”, acrescentou.