Vacinação contra a covid-19 corre risco de ser interrompida pela 5ª vez em Salvador

    Reprodução: Jornal Correio

    A vacinação contra a covid-19 em Salvador corre o risco de ser interrompida pela quinta vez. Desde 19 de janeiro, quando o processo de imunização foi iniciado na capital baiana, a aplicação da primeira dose da vacina foi interrompida no dia 16 de fevereiro, 2 de março e nos dias 6 e 11 de abril. Essa seria a terceira interrupção somente no mês de abril, em um período de 15 dias. O motivo é o estoque baixo de doses, que vêm sendo entregues à conta gotas pelo Ministério da Saúde para as secretarias de Saúde dos estados, que repassam aos municípios.

    O secretário municipal de Saúde, Leo Prates, estima que as doses devam durar, no máximo, até o final desta quinta-feira, 22. Prates informa que Salvador amanheceu na quarta-feira, 21, com 12.711 vacinas para a aplicação da primeira dose. Destas, foram usadas 4.854 doses, ou seja, restam 7.857. Esse quantitativo representa apenas 1% do estoque.  A última remessa enviada à capital, no dia 16 de abril, tinha 45.480 primeiras doses.

    Outros 78 municípios da Bahia estão com aplicação das primeiras doses em relação ao que foi recebido, com percentual igual ou acima de 100%. Isso indica, segundo a Secretaria de Saúde  do Estado da Bahia (Sesab), que o estoque dessas cidades chegou ao fim e que a vacinação foi interrompida.

    Ao todo, foram vacinados, até o momento, 489.926 pessoas em Salvador com a primeira dose, de acordo com o vacinômetro da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Destas, 111.631 são trabalhadores da saúde e os outros 378.295 idosos são acima de 60 anos, pessoas que compõem forças de salvamento e segurança, pacientes em hemodiálise e profissionais de educação, que começaram a ser vacinados até esta quarta, 21.

    O total de vacinados em Salvador corresponde a 85,5% da estimativa feita pela SMS para o grupo prioritário. Ou seja, faltariam menos de 15% do grupo de risco para se vacinar na capital. Porém, a pasta reforça que o Plano de Imunização foi feito com dados estimados da vacinação de influenza de 2020 e, por isso, o número pode aumentar. O montante de imunizados equivale a 16,9% da população de 2.886.698 da cidade.

    Em relação à segunda dose, 170.020 soteropolitanos foram vacinados até então, sendo 52.004 trabalhadores da área da saúde. Isso corresponde a 5,8% da população total de Salvador e a 29,7% do público prioritário.

    Dados da Sesab indicam que 66 cidades baianas avançaram para a imunização das pessoas portadores de comorbidades. O município que mais vacinou esse grupo até agora foi Jequié. Foram 281 pessoas que receberam a primeira dose: 60 transplantadas, 173 imunossuprimidos e 48 com Síndrome de Down. Outras 49 cidades começaram a vacinação dos profissionais da educação e quem lidera o ranking é Teixeira de Freitas, no extremo-sul da Bahia, e Senhor do Bonfim, no norte baiano. Eles vacinaram 156 e 150 pessoas, respectivamente.

    Em todo o estado, são 2.143.424 baianos vacinados. Das vacinas recebidas, 94,2% foram 1ª  dose e 728.608 pessoas receberam a segunda e completaram o esquema vacinal. O percentual aplicado frente ao  recebido é de 58%.

    Trabalhadores da educação

    Os trabalhadores da educação com idades entre 55 e 59 anos e que trabalham na educação infantil começaram a ser vacinados nesta quarta, 21, em Salvador. Além de terem o nome na lista da SMS, o educador deve apresentar documento oficial de identificação com foto e uma cópia do último contracheque ou do contrato de trabalho.

    Foi justamente esse documento que a professora Nilda Melo esqueceu em casa ao sair. Ansiosa pela vacina, ela acordou às 4h da manhã para ser a primeira da fila, mas teve que voltar para casa para buscar o contracheque, após já ter se deslocado para o posto de vacinação. “Fiquei esperando o dia clarear, porque não ia no escuro, e saí de casa antes de 6h. Mas não prestei atenção que precisaria do documento xerocado. A ansiedade foi tão grande que nem vi direito”, conta Nilda, 56 anos, professora do Centro Municipal De Educação Infantil (CMEI) do Calabar.

    Ela já havia se deslocado na terça-feira (20) para a Arena Fonte Nova, pois acreditava que já era o dia. “Enfrentei a fila, mas, quando chegou a hora, a responsável disse que não tinha recebido nada e que era uma fake news”, relata Melo. Mas nem esses dois intercursos da vida desanimaram. “Não me estressou, porque a vontade de tomar a vacina era maior, a oportunidade valia a pena. Estou me sentindo a Rainha da Inglaterra tomando a vacina de Oxford”, brinca.

    A professora Carla Regina Leite, 55, também do CMEI do Calabar, foi um das imunizadas de ontem (21). “A sensação que tenho é, enquanto cidadã, estar protegida, e estar me preparando para voltar a atuar na profissão, que é dar aulas à crianças. É uma perspectiva que vamos retornar à nossa normalidade”, relata Carla. Ela mora na Graça e se vacinou no posto de saúde de Brotas e pegou menos de duas horas de fila de espera, pelo drive-thru.

    Os únicos lugares que ela tem saído são supermercado, farmácia e própria escola, para pegar o material de atividades escolares. “Passo o máximo de tempo possível dentro de casa, me resguardando e seguindo o isolamento rigorosamente. Também tenho comprado mais online, porque a gente não tem muito uma previsão de quando podemos voltar à vida que tínhamos. Mas só de tomar a primeira dose, você tem uma sensação de que a coisa está evoluindo e nos dá esperança”, desabafa.

    Além da primeira dose dos profissionais da educação, Salvador também continuou a vacinação dos idosos acima de 60 anos, doulas, trabalhadores da saúde e autônomos, pacientes em hemodiálise, forças de salvamento e segurança e agentes penitenciários. A segunda dose seguiu sendo aplicada nos trabalhadores da saúde e idosos.

    Ministério da Saúde enviará 3,4 milhões de doses

    O Ministério da Saúde (MS), em coletiva de imprensa realizada ontem, anunciou o envio de mais 3,4 milhões de doses da vacina contra a covid-19 para os estados brasileiros, que serão distribuídas proporcionalmente. O MS não informou quantas doses virão para a Bahia, pois o informe técnico será feita até amanhã. A estimativa, levando em conta a proporcionalidade que tem sido entrega nas últimas semanas, é que cheguem entre 210 e 270 mil doses para o estado.

    Na coletiva, o MS também previu que a vacinação do grupo prioritário no Brasil devará terminar em setembro de 2021. O último ministro da saúde, Eduardo Pazuello, havia dito que esse público estaria imunizado em maio.

    “Insumos que vêm de outros países, há uma carência desses insumos, isso não é uma questão do Brasil, é uma questão mundial. Não ter atingido a meta dos 78 milhões se deve a esses aspectos, aos aspectos regulatórios. O Ministério não vai colocar vacinas que não foram aprovadas pela Anvisa, isso é uma questão legal, o presidente da República já deixou bem claro”, afirmou o ministro da saúde, Marcelo Queiroga.