Escola do futuro exige novo perfil de profissionais de educação; veja como se qualificar

Reprodução: Correio

Quando o mundo percebeu que estava diante de uma pandemia e o distanciamento social virou uma prioridade para conter o avanço da Covid 19, as escolas e os profissionais de educação se viram diante de um outro desafio: como transferir para o mundo digital as interações que ocorriam nas salas de aula? Aliado a isso, profissionais da educação também precisaram se reinventar para se adequar aos novos tempos. Um ano depois, as escolas – que retomarão em Salvador suas atividades semipresenciais dia em maio – mudaram e o perfil de profissional que atua no ramo também.

O CORREIO conversou com especialistas que explicaram sobre o cenário dessa nova escola e quais serão os critérios e perfis solicitados para atuação nesses espaços que serão físicos, mas também virtuais.

A doutoranda em Comunicação e Cultura Contemporâneas e Especialista em Comportamento do Consumidor (IESB) Thaiane Machado acredita que a chamada “nova escola” existia há algum tempo e ficou evidente desde que uma geração de hiperconectados passaram a ocupar as salas de aulas de escolas e universidades. “A pandemia só acelerou a necessidade dos profissionais de educação desenvolverem habilidades pessoais e profissionais para esse modelo de educação”, defende.

Novas habilidades

Entre essas novas habilidades e competências, ela cita a abertura ao novo, a mente plástica para novos aprendizados, novas ferramentas, novas linguagens e uma maneira diferente de estabelecer o diálogo com essa geração. “Os profissionais de educação que se mantiveram em salas de aulas precisaram se capacitar e deixaram de lado as desconfianças e preconceitos com a digitalização da educação. Graças a ela, inclusive, é possível encontrar cursos materiais disponíveis, alguns de forma gratuita”, destaca Thaiane.

Considerado um dos principais futuristas brasileiros, o head de inovação da Ayoo e diretor de criação do Disruptive Luiz Candreva afirma que garantias são e serão cada vez mais raras num mundo em eterna transformação e que não há receita de bolo. Para ele, nesse cenário, os profissionais que serão mais requisitados serão aqueles com relevância, cujo perfil reúna necessidade e utilidade, capazes de resolver algum problema.

Luiz Candreva destaca o papel do profissional capaz de modelar o conhecimento alheio para que esse desenvolva o espírito crítico (Foto: Divulgação)

 

“Num mundo com informação abundante e muitas vezes dispersa de maneira caótica ou sem credibilidade, ser capaz de conduzir e modelar o conhecimento  para que outros possam criar seu próprio julgamento e capacidade crítica é, ao meu ver, uma das coisas mais relevantes que um profissional de educação pode fazer olhando para o futuro”, acredita.

Candreva afirma que além do currículo básico obrigatório, procuraria entender os mecanismos para, dentro dos diversos ambientes de oscilação entre escassez (de recursos, abertura para o novo de pais e gestores que por vezes estão lá presentes), e abundância, de informação e acesso a novas maneiras de aprender. “Encontraria, na minha realidade, como criar o espaço para desenvolvimento das capacidades de aprendizado e reaprendizado além do apreço pela incerteza e a tranquilidade de navegar no caos”, ensina.

Relacionamentos

O coordenador do curso de Pedagogia e da Pós Graduação em Educação da UNIFACS, pedagogo, mestre, especialista em Psicologia da Educação Antônio Gouveia defende que antes pensar nas exigências de mercado, é preciso pensar que se trata dos profissionais que são responsáveis por formas pessoas, cuidar de pessoas e do crescimento delas. “Não é só ferramental, mas é também a necessidade relacional. Portanto, é preciso profissionais que tenham habilidade com a tecnologia, mas também com habilidades relacionais dentro dos desafios atuais”, acredita.

Para o pedagogo, considerando as transformações que a educação vem passando e, consequentemente, novas necessidade sociais e novas percepções sobre a escola, são necessários profissionais com habilidades voltadas para o Ser Humano integral, além das habilidades com ferramentas tecnológicas. “Os novos modelos pedagógicos  já se anunciam com ampla ancoragem em aparatos tecnológicos, tanto do ponto de vista do caráter híbrido, quando das possibilidades de uso da tecnologia em sala de aula presencial”, diz.

Thaiane Machado chama atenção para a necessidade de desenvolver maneiras mais criativas de conseguir se relacionar com os estudantes (Foto: Divulgação)

 

Thaiane Machado salienta que a maior característica desse momento é necessidade de desenvolver formas mais criativas para se relacionar com o interlocutor, que são os alunos. “Isso implica em pensar em um aprendizado relacional, ou seja, trazer aspectos teóricos relacionando com as questões do mundo, da vivência social, dos acontecimentos e até produtos ficcionais (como seriado, filmes etc)”, orienta. Para ela, esse é o momento dos professores se desapegarem do modo presencial das aulas. “Esse modelo é ineficaz no ambiente digital. Não é possível fazer transposição de métodos, mas criar outros modelos para as aulas à distância”, defende.

Requalificação

A responsável pelo laboratório de práticas de gestão Projete Estácio/Fratelli Vita e docente no MBA em Gestão Empresarial, Alessandra Giovane acredita que a dica mais importante no momento de pensar em requalificação é investir em tempo para conhecer e dominar algumas ferramentas. Por exemplo, para os professores, é necessário criar aulas criativas.

“Aquela aula que funcionava muito bem no presencial, provavelmente não vai funcionar no digital. Em breve, as escolas irão retomar o formato presencial, mas o modelo das aulas online para os diversos tipos de instituições de ensino é um caminho sem volta”,diz.

Alessandra Giovane acredita que a digitalização da educação é um caminho sem volta, mas que os profissionais precisarão sofisticar as habilidades emocionais (Foto: Divulgação)

 

Das competências e habilidades, as chamadas soft skills para os profissionais dessa “nova escola”, Alessandra cita a comunicação assertiva, seja verbal ou escrita; a responsabilidade;  autogestão; criatividade; resiliência; gestão do tempo.“Das habilidades técnicas, acredito que ferramentas de gerenciamento de projetos colaborativos, assim como alguns produtos do Pacote Office (Word, Excel, Powerpoint). Além disso, a demanda por BI (Business Intelligence) tem aumentado muito. E aplicativos simples de design, como Canva”, sugere.