Cresce número de pedidos de asilo para refugiados

Com informações do A Tarde ( Foto: Reprodução)

A Polícia Federal (PF) recebe, por meio da Delegacia de Polícia de Imigração da Bahia, entre duas e três solicitações de visto para refugiados por mês. O número, ainda considerado pequeno pela PF, tem crescido nos últimos dois anos.

Embora o agente da delegacia de imigração Paulo Sampaio confirme a informação, a PF não possui dados exatos de quantos refugiados vivem na Bahia. “Temos recebido, entre outros povos, solicitações de venezuelanos”, disse o agente.

Esse tipo de migração  é regulamentada pela lei de refúgio (nº 9.474/97). Segundo  a Agência da ONU para Refugiados (Acnur), o país possui uma legislação ”muito” avançada. “Com isso, o Brasil abre suas fronteiras, dá acesso aos serviços básicos, como moradia, educação e saúde”, opina o  porta-voz da Acnur, Luiz Fernando Godinho.

De acordo com números do Comitê Nacional de Refugiados (Conare), até o ano passado, só de venezuelanos, foram registradas 3.375 solicitações de visto de refúgio no país.

Do total de refugiados,  segundo o órgão, vinculado ao Ministério da Justiça, 9.552 pessoas de 82 nacionalidades vivem no Brasil. “Quando cheguei aqui, estava muito magra, pesando 49 kg. Hoje, me sinto bem com 56 kg, pois minha alimentação está bem diversificada”. Estas palavras são da dentista venezuelana Astrid Esqueda, 25, refugiada há quatro meses em Salvador.

De pequena estatura, 1,59 m, Astrid mora no apartamento da prima, casada com um brasileiro. Seu objetivo aqui é conseguir trabalho e reconstruir a vida.

A história de Astrid retrata uma nação em que milhares de venezuelanos ultrapassam a fronteira com o Brasil trazendo expectativas, medo e sonhos. A dentista percorreu, em três dias, cerca de  quatro mil quilômetros que separam o estado de Apure, na Venezuela, de Salvador. “Fui para Boa Vista (Roraima). De lá, peguei um voo para Brasília e outro avião para Salvador”, contou.

Pós-graduada em cirurgia dentária, Astrid trabalhava em uma clínica odontológica antes de vir para cá. Ela ressalta a desvalorização do ofício, pois recebia um salário mínimo por mês. “Só dava para comprar coisas básicas, entre roupas e comidas”.

Mesmo assim, faltavam produtos substanciais na prateleira dos supermercados, como papel higiênico e  creme dental. “Minha paciente estava com os dentes corroídos, porque, na falta de pasta, escovava com sumo de limão. O que eu poderia falar a ela, se não existia creme dental nos mercados?”, indagou Astrid sobre a falta de produtos básicos no mercado.

nstabilidade

Com a inflação de quase 250% ao ano, a Venezuela passa pela pior crise econômica de sua história. Essa situação tem gerado conflitos com o presidente  Nicolás Maduro.

Movimentos sociais de oposição a Maduro ocupam as ruas do país, clamando pela saída do presidente e novas eleições.

Crítica ferrenha do governo, Astrid confirma as imagens de repressão aos protestos populares, que são difundidas em todo o mundo por meio da TV. “Eu presenciei a polícia e as tropas da guarda nacional perseguindo manifestantes”, contou.

Na batalha de Astrid na capital baiana, a experiência por três meses como garçonete de um restaurante motiva a busca por novos empregos em lojas.

Além disso, a venezuelana, que deixou o Brasil esta semana e foi para o Chile,  participava de aulas gratuitas de português a refugiados na Unifacs, em Salvador. A turma com 22 alunos é coordenada pela professora de relações internacionais Rafaela Silva. O curso visa promover a cidadania e o intercâmbio cultural  com a cidade de Salvador.

Autonomia

Para além da busca por qualidade de vida, o que trouxe o togolês Zakari Aboudouraoufou, 33, à Bahia foi o desejo de confeccionar e vender roupas africanas. Ele é colega de Astrid no curso de português a refugiados. Refugiado no estado há um ano e sete meses, Zakari comercializa seus produtos no  Centro Histórico.

Sua jornada em busca do desenvolvimento profissional começou muito antes de desembarcar em terras soteropolitanas. Ainda adolescente, Zakari tentou, sem sucesso, a carreira de jogador de futebol na Nigéria.

 “A gente tem que tentar. Se errar, reza, volta atrás e faz diferente”, refletiu o togolês,  praticante da religião muçulmana.

Passado o sonho de jogar bola, Zakari descobriu o talento para a costura. Voltou ao seu país de origem para  trabalhar em uma oficina de costura. Foi  aí que o artesão resolveu vir para o Brasil.

 “No Togo, era muito difícil crescer na vida. Um país ditatorial, onde o governo persegue os opositores”, conta.

Já em Salvador, Zakari acostumou-se com a cultura local. “O jeito das pessoas  daqui lembra a África. Isso me deixa confortável, até para  vender minhas roupas”, concluiu.

Ditadura

À frente do Togo há meio século, a família do presidente Faure Gnassingbé enfrenta resistência da população. Grupos de oposição promovem protestos contra o mandatário. Em resposta aos atos, tropas nacionais reprimem com força as manifestações. No mês de agosto, a repressão do governo deixou dezenas de feridos e  duas pessoas mortas.  Aqui, gente como Zakari segue a trilha longe de casa em busca de paz.