Uber de médicos: app promete resgatar tradição de médico da família

A engenheira Ana Beatriz Correia já havia levado o filho ao hospital durante uma crise de asma e a ideia de voltar a ficar horas na recepção esperando atendimento para o caçula não estava nos planos. “A criança já está com o sistema imunológico debilitado e nem pensei em ficar no mesmo espaço que inúmeras outras pessoas  também doentes e transmitindo viroses”, pontua. Sacou o celular do bolso e decidiu chamar o médico em casa através de um aplicativo que está sendo conhecido como o ‘Uber da Saúde’, numa alusão ao serviço de transporte que vem criando polêmica com os taxistas.

“Em uma hora, o médico estava em casa, atendeu meu pequeno e, desde então, virou o nosso médico de família, pois temos conversado pelo whatsapp”, diz, satisfeita com a prestação do serviço da  Docway. Embora novo na Bahia, o aplicativo já conta com 2 mil usuários em Salvador e
35 profissionais como prestadores de serviço.

Para o criador do aplicativo, o empresário Fábio Tiepolo, a ideia de cria um aplicativo que unisse médicos e pacientes surgiu depois de trabalhar por 12 anos numa multinacional ligada à área. “A proposta era criar uma plataforma gratuita para médicos e pacientes, capaz de uni-los numa perspectiva de comodidade, ganho de tempo e proximidade”, conta.

Estrutura
Os profissionais interessados em integrar a equipe precisam, além da inscrição, apresentar uma série de documentos que garantam a formação, inscrição no Conselho Federal de Medicina e na sociedade de especialidade médica. Os mesmos serão submetidos a análise e só depois o profissional passa por um processo de capacitação para atuar com o aplicativo.

As consultas giram em torno de R$ 190 e R$ 220 e o aplicativo fica com 15% do total, que é pago por meio de cartão de crédito. “É importante salientar que o aplicativo não atende consulta de emergência e serve apenas para as consultas eletivas, ou seja, aquelas que seriam feitas num consultório, por exemplo”, esclarece Tiepolo.

O serviço, que foi inaugurado em setembro de 2015, já está disponível em cem cidades brasileiras, totalizando 25 mil pacientes e 1.600 profissionais filiados.

Para a médica da família e homeopata Andréa de Lemos, que há oito meses se vinculou ao Docway, a grande vantagem do aplicativo reside em conhecer o universo do paciente. “No atendimento domiciliar é possível ter uma visão global do quadro do paciente, além disso, quando se contabiliza o que seria o custo com aluguel de salas e impostos, o atendimento feito dessa forma termina sendo mais vantajoso”, garante.

Como desvantagem, ela pontua as dificuldades com o trânsito. “Se o profissional não se incomodar com os desgastes da locomoção, a proposta termina sendo um trabalho menos oneroso e com maior qualidade”, conta a médica que já atuou tanto em clínicas como em hospitais, mas que há dez anos fez a opção de incluir as visitas domiciliares, resgatando uma tradição antiga.

Questões éticas
Com uma visão cuidadosa do novo serviço, o coordenador de Comissão de Bioética dos Conselhos Federal e Estadual de Medicina (CFM e Cremeb), Otávio Marambaia, lembra que o serviço não está inscrito no órgão representativo e que  procedimentos médicos precisam de  continuidade. “Da mesma forma que não se pode garantir que o motorista do Uber será sempre o mesmo, não há a possibilidade de escolher o profissional de saúde”, destaca. Para ele, corre ainda o risco de que o profissional termine cometendo falta ética e interferindo na avaliação de um colega.

O conselheiro critica ainda o controle sobre o prontuário do paciente que precisa ficar sob a guarda de um profissional de saúde e ser certificado por ele. “Prontuários disponibilizados para uma rede não possuem garantia de sigilo e incorrem em ilícito ético”, completa o representante do Conselho.

Uber de médicos: app promete resgatar tradição de médico da família.  Mais informações no site www.docway.co.