Reação aos ataques do 11 de Setembro teve sucessão de erros que ainda assombram os EUA

    As cenas do Talibã chegando a Cabul na semana passada , acompanhadas da fuga desesperada de afegãos e cidadãos de vários países, trouxeram de volta ao debate o longo conflito do Afeganistão, face central da “guerra ao terror”, resposta política e militar dos Estados Unidos aos ataques do 11 de Setembro de 2001, cujos erros ainda assombram o país.

    Ao lançar essa guerra, o então presidente George W. Bush pôs o combate a organizações terroristas no topo das prioridades do governo, com foco inicial na rede al-Qaeda, responsável por jogar aviões contra as Torres Gêmeas e o Pentágono, no maior ataque terrorista em solo americano. Ao invés, porém, de agir com base em ações de inteligência e ataques cirúrgicos, o governo de Bush optou, como pontua o historiador Stephen Wertheim, do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, por ações militares grandiosas, que tiveram custos financeiros e humanos colossais sem a garantia de derrotar a al-Qaeda nem capturar seu fundador, Osama bin Laden.

    O 11 de Setembro foi uma tragédia em cima de uma outra tragédia. Houve os ataques em si, horríveis e ainda dolorosos. E houve a reação dos EUA a eles, que foi impulsionada por algo além do que uma resposta a um problema de segurança — afirmou Wertheim, autor do livro “Tomorrow, the World: The Birth of U.S. Global Supremacy” (Amanhã, o mundo: o nascimento da supremacia global americana, sem tradução no Brasil).

    Wertheim lembra das palavras do então secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, pouco depois de os aviões deixarem quase 3 mil mortos nos EUA: para ele, a resposta aos atentados precisaria “atingir alguma coisa” — leia-se, bombas explodindo em locais distantes e inimigos de joelhos, ao vivo nas TVs dos americanos. Assim, a Guerra do Afeganistão começaria com ataques contra posições da al-Qaeda em áreas inóspitas de um país que ficara conhecido do público como o atoleiro dos soviéticos nos anos 1980 e, agora, como lar do homem mais odiado do mundo, Bin Laden .O Talibã seria deposto em semanas, mas continuaria lutando uma guerra contra as forças internacionais e o governo ao estilo ocidental instalado em Cabul: a diferença é que aquela que chegou a ser apelidada de “a boa guerra” perdia espaço em Washington para outro conflito, bem mais controverso: a Guerra do Iraque.

    As duas ficariam conhecidas — para o bem e para o mal — como “guerras eternas”, ao custo de centenas de milhares de vidas e trilhões de dólares do governo dos EUA. Globo