Um terço dos estudantes das escolas particulares do DF opta pelo ensino presencial

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Um terço dos estudantes das escolas particulares do DF opta pelo ensino presencial

Após mais de seis meses com as aulas presenciais suspensas, devido à pandemia do novo coronavírus, alunos da rede particular de ensino deram início ao retorno às escolas, com atividades da educação infantil e do ensino fundamental anos iniciais. A segunda-feira foi marcada por uma grande expectativa para crianças e uma baixa movimentação na porta das instituições de ensino. Um levantamento do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe) mostrou que entre 100 e 120 escolas retornaram neste primeiro dia, o que representa cerca de 25% das instituições da capital, com aproximadamente um terço dos estudantes optando pelo modelo presencial.
Entre os profissionais de ensino, houve muita cautela nos detalhes dos protocolos, para que os planos trabalhados há meses tivessem sucesso quando colocados em prática, agora. Entre os pais, os principais motivos citados para levar os filhos às escolas foram critérios como a segurança e a saúde mental dos pequenos. No Colégio Santa Dorotéia, na 911 Norte, a movimentação foi ainda mais tranquila, devido ao escalonamento do horário de entrada para cada turma. Para entrar, o aluno passa pelo protocolo de higienização e medição de temperatura, além do uso de máscara ser obrigatório. Os funcionários também aderiram às proteções de face shields e luvas.

No lugar de abraços entre alunos e servidores, toques de pés sinalizaram o novo normal. A ansiedade era grande entre as crianças. Do carro, Luiza Freitas, 6 anos, não continha a animação para e rever os amigos. “Senti muita saudade da professora”, conta. Ao ser perguntada sobre o que vai fazer primeiro, ela respondeu: “Falar com a minha amiga Nina. A gente só conversava por telefone”, comemora. A mãe, Danielle Freitas, 44, conta que a filha nem dormiu, de tanto que estava com saudade. “Acredito que está tranquilo de voltar neste momento, seguindo todos os protocolos, claro. E ela já não estava mais aguentando ficar em casa”, afirma a servidora.Curva epidemiológica
Para Maria Gabriela Gasperazzo, 30, o retorno está sendo em um momento ideal. “Sentimos mais segurança após a curva de infectados ter caído. E a escola também nos mostrou segurança com os protocolos”, afirma a dona de casa. De acordo com ela, a filha Letícia não rendia durante as aulas on-line. “Ela perdeu o ritmo de estudos, a concentração. Essa volta será bom para ela”, pontua.
Nina, 8, e Vitor, 6, estavam eufóricos para encontrar os colegas de turma. “Quando eles reconheceram o caminho do colégio começaram a gritar. A Nina falou, ‘mamãe, estou com borboletas na minha barriga’. Eles gostam muito da escola e a aula on-line acaba que fica cansativa”, acrescenta a servidora Michelle Vinecky, 46. Segundo ela, é importante ter esse momento para voltar a rotina. “Com cuidado, mas é importante proporcionar a elas viver um pouco. Até para mim foi uma sensação gostosa arrumar a lancheira para eles depois de tanto tempo”, conta.

Os números atuais da pandemia também foram analisados por Letícia Gobbi, 37, na hora de fazer a escolha sobre o retorno. “Se a volta tivesse acontecido em agosto, a gente não estaria se sentindo seguro. Porque a taxa de ocupação de leitos de UTI, especialmente da rede privada, estava muito alta, superior à rede pública. Agora, acompanhamos uma queda nas contaminações diárias, nas mortes”, explica a advogada.

Letícia ainda destaca que a filha, Valentina, 3, está em uma fase em que a socialização é importante para o crescimento saudável. “A gente também avalia como fator determinante a questão emocional, o desenvolvimento emocional em uma das fases mais relevantes da infância. E nem todo mundo quis retornar, então um retorno menor é melhor para nós”, considera.Metodologias
O diretor do Colégio Santa Dorotéia, Sérgio Renato Martins, explica que dos 300 alunos apenas 51 vão voltar presencialmente. A escola optou por deixar todos os professores ministrando as aulas pela plataforma on-line. Os estudantes que estiverem na escola vão assistir pelo telão a aula, e os monitores vão dar a assistência. “Dessa forma vamos permitir que todos tenham o mesmo conteúdo”, afirma. Sobre os protocolos de segurança contra a covid-19, o diretor explica que os seis meses serviram para a escola se adaptar. “A vantagem é que tivemos muito tempo para se adequar a todas as normas. Aos pouquinhos fomos nos preparando para receber os alunos”. Ao todo, o colégio está com 16 turmas, oito em cada turno. Sendo que, no presencial, cada sala está com uma média de três a cinco alunos. “A maior turma tem oito estudantes. Mas se tivéssemos uma adesão muito grande. A gente faria um rodízio”, pontua Sérgio Renato. Além do escalonamento na hora da entrada e saída. A escola também adotou horário de intervalos diferenciados para cada turma.

No Colégio Arvense, na 914 Norte, cerca de 58 estudantes voltaram para o presencial. A escola, que reabriu em 6 de agosto, quando aconteceu a primeira autorização para o retorno, oficialmente teve o seu segundo dia de aula com os alunos após a pandemia da covid-19. Na avaliação da diretora pedagógica, Márcia Nogueira, houve um acréscimo de 20 estudantes nesse momento agora. A perspectiva é que aumente o número, conforme os pais vão sentindo mais confiança com os protocolos e na situação pandêmica.

A Escola Canarinho, 208/408 Norte, que atua apenas na educação infantil, reabriu as portas com uma expectativa positiva para garantir a segurança de todos e manter os estudantes no colégio. De acordo com o diretor administrativo, Beto Cianni, cerca de 40% dos pais cancelaram a matrícula ao longo dos últimos seis meses. “Hoje foi o primeiro dia, ainda estamos avaliando, mas adotamos todos os protocolos recomendados e ainda acrescentamos mais. E os pais têm essa opção de voltar ou continuar no on-line”, relata ele, que adiantou ao Correio: pelo menos até o final do ano, a rotina da escola será essa com o modelo híbrido. Nesta primeira semana, os alunos estão ficando no colégio em torno de duas horas por dia, para a readaptação.

Sindicatos
Na visão do Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinproep), essa primeira semana ainda é de avaliações, como detalhou Rodrigo de Paula, diretor jurídico. “Há escolas que nem voltam este ano, muitas vão retornar só depois. Ou seja, é um momento de teste agora. Os pais vão avaliar e ver se as instituições seguem os protocolos. No primeiro dia, não encontramos nada anormal, mas estamos à disposição de professores e pais para receber denúncias se houver qualquer irregularidade”, completa.

Álvaro Domingues, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe), ressalta que o retorno seguro é fruto de um amplo trabalho realizado. “Estamos há mais de dois meses fazendo um trabalho no processo de qualificação das escolas, tanto no espaço físico quanto no treinamento de professores e funcionários. O número de alunos está dentro do previsto também, parcelado e cumprindo todos os protocolos estabelecidos”, afirma.
Duas perguntas para
Milen Mercaldo, médica pediatra do Hospital Anchieta de Brasília

Quais as principais orientações para a comunidade escolar quanto os momentos mais coletivos entre as crianças dentro do período letivo, como a entrada, intervalo e saída dos alunos?
Os cuidados devem ser tomados desde o trajeto até a chegada à escola, principalmentequem usa transporte público. Reforçar a recomendação do uso de máscaras e álcool em gel 70% no transporte, assim como a atenção à ventilação e número de pessoas no veículo. Devem higienizar as mãos antes e depois do percurso, verificar se é possível manter abertas as janelas dos veículos, a fim de possibilitar maior circulação de ar. Na escola, os locais de entrada e saída deverão estar sinalizados com fitas amarelas no piso, demarcadas com distanciamento entre de 1,5 metro a 2 metros entre os alunos. O ideal, se possível, que sejam várias filas em pontos diferentes. Deve-se realizar marcação de mão única em corredores para minimizar o tráfego frente a frente, quando for possível; recomenda-se ao chegar ou sair da escola a higienização dos sapatos, a utilização das máscaras, aferição da temperatura com o parâmetro limite de maior ou igual a 37,5 ºC; oferecer álcool em gel 70%, lavar as mãos ou utilizar outro produto devidamente aprovado pela Anvisa, para higienização.

Também podemos citar a adoção de horários diferenciados para entrada, saída de refeições e atividades equalizando os espaços coletivos que possam gerar aglomeração. Recomenda-se ainda a interdição de bebedouros de acionamento manual para que não seja realizado contato direto de bocas com bebedouros.

A criança que retorna às aulas presenciais tem muita energia acumulada. Que tipo de atividades poderão ser feitas na escola focando na saúde emocional delas, mas protegendo também a saúde?
Atividades pensando na saúde mental e protegendo a saúde física da criança e adolescentes. Neste momento, deve-se estimular a imaginação, fazer atividades em que elas possam expressar os seus medos em forma de desenhos, inspirando na criação de heróis contra o coronavírus, permitindo às crianças brincarem com a realidade de forma lúdica.

Para as crianças maiores e os adolescentes, o ideal é fazer um acolhimento em forma de roda de conversa, ao ar livre, no sentido de se poder falar dos medos e das experiências durante o distanciamento, construindo sentido a tudo o que for vivido. Eles geralmente se sentem aliviados se conseguem expressar e comunicar seus sentimentos perturbadores em um ambiente de apoio e segurança. É essencial acolher e conversar sobre a pandemia, sobre sentimentos que persistem, como tristeza e o medo da morte. Alguns podem desenvolver estresse pós-traumático e necessitarão de cuidados profissionais.

Fonte: Eu estudante/Correio Braziliense