Alta da inflação faz beneficiário do Bolsa Família ter pior poder de compra dos últimos 7 anos

O Programa Bolsa Família foi criado em outubro de 2003 para combater a pobreza e a desigualdade no Brasil e hoje 14,6 milhões de famílias são beneficiárias em todo o país. Entretanto, o auxílio tem ficado cada vez mais distante de cumprir seu objetivo.

Em sete anos, o poder de compra para quem depende do benefício é o pior. O valor pago hoje permite que uma família adquira apenas 30% de uma cesta básica completa para uma única pessoa.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a inflação prejudica mais quem tem pouco ou quase nada. A pressão ocasionada pela taxa é maior entre os brasileiros com menor renda. Em um ano, para famílias de renda muito baixa, o índice aumentou em 10,6% e na classe de renda alta a alta foi de 8%. Ou seja, quem ganha menos gasta bem mais.

Em 2015, o benefício no valor pago à época possibilitava que os beenficiários tivessem acesso à quase metade de uma cesta básica mensalmente. Porém, a crise política do país no ano seguinte, com o impeachment da presidente Dilma Rousseff, acarretou aumento da inflação, que já estava em patamar alto por decisões do governo e pressões externas. O subsídio passou a valer apenas 39,4% da cesta básica.

E se o peso do preço dos alimentos pôde ser sentido por anos, no caso de Helena Mendes, 20 anos, acompanhada pelo portal Metrópoles, bastaram meses para entender a situação. Helena foi entrevistada pelo site em março deste ano. Na época, a jovem acabara de conseguir a primeira parcela, no valor de R$ 41, do Bolsa Família e tinha uma filha de pouco mais de um ano.

Desde lá, a filha de Helena cresceu e tornou-se mais uma pessoa que consome alimentos na casa. A moradora de Praia Grande (SP) contou ao portal que, oito meses depois do contato da reportagem, muita coisa mudou.

“Quando recebi a primeira parcela, eu conseguia ir ao mercado e comprar uma caixa de leite. Hoje, ainda faltam centavos para conseguir levar leite para minha filha”, afirma Helena.

A jovem faz trabalhos temporários em uma pizzaria para ajudar nas contas  e afirma que já deixou de comprar itens básicos, como óleo de cozinha. “A dona do restaurante dá um pouco de banha para gente, então isso eu consegui não comprar mais. Assim que a gente tá fazendo”, explica.

A economista Patrícia Costa, supervisora de preços do Dieese, em conversa com o Metrópoles,  destaca que a situação está diretamente ligada às escolhas políticas econômicas do país.

“O Brasil vem exportando seus principais alimentos num volume extremamente alto, e durante a pandemia. Então, no momento de uma crise sanitária, da qual você desconhece a proporção, você simplesmente continua exportando, quando o certo era diminuir esse movimento, como outros países fizeram. Mas, no Brasil, isso não aconteceu, porque aqui tudo foi tratado como uma ‘gripezinha‘”.

Em uma lista com 37 países, o país computou a quinta maior inflação já registrada até agosto deste ano. Com a alta de 0,87% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a taxa oficial acumulou alta de 9,68% nos últimos 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).