Bolsa cai com China fraca e dólar sobe mesmo após injeção de US$ 1,2 bi do BC

A Bolsa de Valores brasileira fechou em queda de 0,19%, a 114.428 pontos, nesta segunda-feira (18), influenciada pelo fraco crescimento da economia chinesa. O dólar subiu 1,21%, a R$ 5,5200, mesmo após nova intervenção do Banco Central no câmbio.

O PIB (Produto Interno Bruto) da China cresceu 4,9% entre julho e setembro, o ritmo mais lento desde o terceiro trimestre de 2020 e desacelerando 7,9% em relação ao segundo trimestre.

O desempenho da segunda maior economia do mundo traz preocupações ao mercado quanto ao crescimento de países produtores de matérias-primas, como é o caso do Brasil, já que o gigante asiático é o principal consumidor desses insumos.

Além de enfrentar uma crise no setor imobiliário com a ameaça de quebra da incorporadora Evergrande, a China realiza racionamentos de energia diante da dificuldade do país em substituir rapidamente o carvão mineral por fontes limpas, como a eólica e a solar, enquanto a demanda mundial por produtos industrializados cresce com a retomada econômica global devido à redução dos casos de Covid, destaca Lucas Collazo, especialista em investimentos da Rico.

Quanto ao câmbio, a alta do dólar também reflete a preocupação de investidores com o contexto internacional, além de reforçar a aversão aos riscos domésticos, uma vez que o Brasil ainda não apresentou fontes de recursos para enfrentar dois dos seus principais problemas fiscais para 2022: o pagamento dos precatórios e a criação de um novo programa de distribuição de renda para substituir o Bolsa Família e o auxílio emergencial.

“A gente tem um ambiente externo de cautela, contudo, o real está se desvalorizando mais do que outras moedas de países emergentes, o que revela ainda uma percepção de piora local”, diz Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest.

Os leilões de swap cambial tradicional realizados pelo BC nesta segunda foram divididos entre oferta extraordinária de 10 mil contratos e a oferta já prevista pelo calendário de 14 mil contratos, em meio a esforços para suprir demanda por moeda estrangeira e amenizar distorções na taxa cambial. A autarquia vendeu todos os contratos ofertados, o equivalente a US$ 1,2 bilhão (R$ 6,6 bilhões).

O BC também divulgou que fará, entre 9h30 e 9h35 (horário de Brasília) desta terça, leilão de venda à vista de dólares referenciado à taxa Ptax. Segundo o comunicado, serão aceitos no máximo US$ 500 milhões de dólares no leilão. Esse será o primeiro leilão de venda à vista desde 15 de março.

Apesar de o Banco Central estar marcando presença nos mercados nas últimas sessões, especialistas apontam que suas intervenções possuem efeitos temporários e não alteram tendências estruturais do câmbio.

“A atuação do Banco Central não muda a tendência da moeda e, se mudar, é apenas no curtíssimo prazo. O que o BC pode fazer é segurar a volatilidade e evitar que o dólar suba fora de controle”, disse Marcos Weigt, chefe de tesouraria do Travelex Bank.

Segundo Weigt, o que faria o dólar assumir tendência de queda e devolver alguns desses ganhos ante o real seria uma redução das tensões fiscais domésticas, como, por exemplo, com uma solução positiva para a conta de precatórios ou a acomodação do novo Bolsa Família dentro do teto de gastos.

“Isso, sim, nos ajudaria a falar em uma taxa de câmbio mais próxima dos R$ 5”, diz.

A moeda brasileira poderá sofrer mais pressão por desvalorização frente ao dólar a partir do próximo mês, quando o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) deverá anunciar que elevará sua taxa de juros básicos para conter o avanço da inflação global gerada pela quebra das cadeias de abastecimento durante a pandemia.

A medida pode levar mais investidores a aplicar em títulos da dívida do Tesouro americano, ampliando a escassez de dólares em economias mais arriscadas, como a do Brasil.

Também nesta segunda, a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, disse a líderes do Congresso que estenderá medidas extraordinárias de gestão de recursos para ficar abaixo do limite da dívida federal até 3 de dezembro, após um pequeno aumento no teto de endividamento ter sido aprovado na semana passada.

Para Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual digital, o Banco Central tem condições de compensar a elevação dos juros americanos por meio da combinação de ofertas de swaps cambiais e elevação da taxa Selic, medidas já em curso.