O resultado fiscal de 2021 superou as previsões mais otimistas’, diz Mansueto Almeida

O economista Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro Nacional e hoje economista-chefe do banco BTG Pactual, domina como poucos o orçamento do governo e costuma ter os números na ponta da língua. Por seu perfil técnico, Mansueto, de 54 anos, tornou-se um dos nomes mais respeitados do mercado quando o que está em jogo são as finanças públicas.

Nesta entrevista ao Estadão, ele traça um quadro detalhado da situação fiscal do País e diz que o resultado das contas governamentais em 2021 superou, de longe, as previsões catastrofistas feitas pela maioria absoluta de seus pares. “A gente terminou 2021 com números muito melhores do que os esperados por qualquer economista, inclusive os mais otimistas, não um ano atrás, mas seis meses atrás”, afirma.

Segundo Mansueto, porém, “o mercado está nervoso”, apesar das boas notícias na área fiscal, em razão da possibilidade de haver novos “furos’ no teto de gastos e do discurso de “alguns candidatos” à Presidência contra a medida. “A gente está no seguinte dilema hoje: ou a narrativa vai se aproximar da realidade ou a realidade vai se aproximar da narrativa e a visão de que as coisas estão ficando muito ruins vai se consolidar.”

Mansueto fala também sobre a “reancoragem” das expectativas com a alta dos juros promovida pelo Banco Central, as perspectivas da economia para este ano, a alta dos investimentos na produção em 2021 e os desafios que o País tem pela frente para seguir o caminho do desenvolvimento sustentável. “Do ponto de vista estrutural, com as reformas que o País fez nos últimos anos, o cenário melhorou muito”, diz. “Mas o Brasil ainda tem um ajuste fiscal para fazer, para colocar a dívida pública numa trajetória de queda.”

Nos últimos tempos, muitos analistas têm feito previsões catastróficas sobre a situação fiscal do País. Dizem que as contas públicas saíram de controle, que o apocalipse vai chegar e coisas do gênero. A situação fiscal está tão ruim quanto dizem por aí?
Olhando a situação fiscal hoje, a gente terminou 2021 com números muito melhores do que os esperados por qualquer economista, inclusive os mais otimistas, não um ano atrás, mas seis meses atrás. A expectativa no início do ano era de um déficit primário do setor público (receitas menos despesas, sem os juros da dívida), incluindo Estados, municípios, estatais e governo federal, de R$ 250 bilhões. Mas a gente fechou o ano com um superávit primário entre R$ 20 bilhões e R$ 40 bilhões – o primeiro desde 2013 – equivalente a algo entre 0,2% a 0,3% do PIB (Produto Interno Bruto). Agora, em 2022, este resultado não deverá se repetir. A estimativa é de um déficit de R$ 76,8bilhões. Ainda assim, se somarmos o resultado de 2021 com a estimativa para 2022, vai dar um déficit muito, muito baixo. O déficit primário para o biênio 2021/2022 deverá ficar em torno de R$ 30/35 bilhões. Não é nada. Mesmo que venha um número pior, ainda vai ser um déficit baixo. Na crise de 2015 e 2016, o déficit foi bem mais alto. Somando os dois anos, o déficit chegou a R$ 267 bilhões em valores da época. Em 2015, o déficit primário do setor público foi de R$ 111 bilhões em 2015, em valores históricos, o equivalente a 1,9% do PIB, e em 2016, de R$ 156 bilhões ou 2,5% do PIB.