Domingo no TCA apresenta ‘Pele negra, Máscaras Brancas’

Foto: Adeloyá Magnoni/Divulgação

Foto: Adeloyá Magnoni/Divulgação

O espetáculo ‘Pele negra, Máscaras Brancas’, baseada na obra homônima de Frantz Fanon, leitura que aborda os impactos do racismo pessoal, interpessoal e institucional nas vidas e mentes de pessoas negras, será apresentado no projeto Domingo no TCA, dia 14 de julho, às 11h. A apresentação da Companhia de Teatro da UFBA é promovida pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult), texto de Aldri Anunciação, direção de Fernanda Júlia e co-direção de Licko Turle. Ingressos a R$ 1,00 (inteira) e R$ 0,50 (meia), vendidos apenas no dia do evento, a partir das 9h, com acesso imediato à plateia do teatro.

Composta por um elenco majoritariamente negro, um dramaturgo negro, “Pele Negra, Máscaras Brancas” tem a primeira mulher negra como diretora de um espetáculo pela Companhia de Teatro da Ufba, fundada em 1981. Natural de Alagoinhas, Onisajé (Fernanda Júlia), de modo semelhante a outras obras, traz o aprendizado dos mitos e deuses africanos.

Onisajé destaca que a montagem legitima uma trajetória que vem construindo, desde que começou a fazer teatro em 98, e desde que dirigiu o primeiro espetáculo sobre a temática negra em 2002. “É muito importante essa representatividade, a gente começar a diversificar as narrativas e a legitimar as existentes, que são invisibilizadas e deslegitimadas por um pensamento machista”, disse.

Para a diretora, o convite para ir ao TCA é a possibilidade de abrir um equipamento público para uma plateia que, geralmente, não se vê representada em grandes palcos. “É importante quebrar as amarraras, derrubar essas barreiras, ampliando as nossas consciências e, acima de tudo, compreendendo que somos diversos, somos várias culturas, e que essas culturas todas merecem ser respeitadas, legitimadas e mostradas. Ir ao palco do TCA com o espetáculo de Teatro Negro, Teatro Preto, de Candomblé, que é o Teatro que eu faço, é a possibilidade colocar 54% da população brasileira dentro de um espaço público de arte e cultura, se vendo e sendo visto”.

Segundo o diretor Licko Turle, o espetáculo é produto de um movimento negro dentro da Universidade Federal da Bahia (UFBA), na Escola de Teatro, especificamente, levando à pesquisa e estudo dos princípios do racismo e de como a sociedade vê o negro e de que sociedade é essa. “Fomos utilizar o Frantz Fanon, que foi um psiquiatra negro que nasceu na Martinica, e depois foi morar na França e na Argélia, onde faz um estudo de como ficamos enlouquecidos com o racismo, ou seja o o racismo enlouquece”, ressalta Turle.

O processo de montagem, explica, foi feito na Companhia de Teatro da UFBA, com apresentação Teatro Martim Gonçalves (TMG), durante quatro semanas. “Para a nossa alegria, tivemos um público superior ao esperado e ao que o Teatro comportaria. Temos 190 lugares no TMG e todos os dias, sem exceção, voltavam à casa 200 pessoas. O espetáculo acabou sendo um sucesso de público e, até mesmo de crítica, e buscamos a Secretaria de Cultura do Estado, que teve a visão da importância do espetáculo, para apresentar no projeto Domingo no TCA”.

Turle destaca que o TCA tem um símbolo para a cidade de Salvador e para a Bahia muito forte, pela qualidade de todos os espetáculos, shows, música, dança, e tudo que é oferecido à população. “Estive algumas vezes no projeto Domingo no TCA e, mais do que uma apresentação, o espaço se transforma em uma festa das comunidades soteropolitana e artística, em uma celebração da família baiana, do artista baiano. Estamos muito felizes em nos apresentar para 1500 lugares. Tenho certeza que a gente vai lotar e celebrar juntos, essa representatividade do corpo negro, no palco, na cena, nesse cenário da arte baiana”, declara. “Sabemos que a experiência para os atores e atrizes do espetáculo será única, será única também para os expectadores que vão ver no palco esse trabalho que fala diretamente sobre eles, sobre o que é ser obrigado a colocar uma máscara branca todos os dias para sair de casa e conseguir sobrevir ao racismo social”, completa o co-diretor.

A peça busca denunciar o processo de colonização na construção de sofrimentos psicológicos em corpos negros, ao retratar três períodos históricos (1950, 2019 e 2888) e trazer o próprio Fanon como personagem, que, após ter sua tese reprovada em 1950, é colocado no ano de 2019 para, mais uma vez, defender o resultado de seu doutorado.

Segundo pesquisas de Turle, o trabalho de Frantz Fanon foi o que detonou o conceito de oprimido, tendo sido a grande influência para Paulo Freire e tantos outros. “E para Fanon, o oprimido é aquele que a sociedade europeia, no caso sociedade branca, não permitia que ele existisse enquanto ser humano, enquanto pessoa. E ele vai, inclusive, lutar na guerra da Argélia contra a França, pela libertação da Argélia. A partir deste conceito de que o oprimido tem que lutar para viver nesse mundo.”, disse.

O conceito de oprimido, informa o co-diretor, é discutido por um grupo grande de intelectuais e pensadores que criaram vários livros na área de psicologia, psicoterapia e pedagogia do oprimido, entre outros, e Boal acaba, então, escrevendo Teatro do Oprimido. “Fiz alguns exercícios com os atores sobre a estruturas espaciais de poder, como o jogo do poder se organiza na sociedade criando estruturas. Usei essa ideia para a preparação e entendimento no espetáculo. Daí a relação com o Oprimido, percebendo o lugar de cada personagem em cena, segundo essa estrutura”.

Serviço

DOMINGO NO TCA

“Pele Negra, Máscaras Brancas”
Onde: Sala Principal do Teatro Castro Alves
Quando: 14 de julho de 2019 (domingo), 11h
Quanto*: R$ 1,00 (inteira) e R$ 0,50 (meia)

* Vendas somente no dia, a partir de 9h, com acesso imediato do público.

Classificação indicativa: Livre