Mudanças nas Forças Armadas: Bolsonaro quer pessoas dispostas a ser ‘Pazuellos’, avalia Cantanhêde

    Reprodução; Metro 1

    A jornalista e comentarista política Eliane Cantanhêde avaliou as recentes demissões dos comandantes das Forças Armadas como um sinal de rompimento com o governo de Jair Bolsonaro. Em entrevista a Mário Kertész hoje (31), durante o Jornal da Bahia no Ar da Rádio Metrópole, ela avaliou como preocupante o recente movimento do presidente da República.

    “Ele já tem tantos fronts de guerra, cria mais um, uma guerra exatamente com as Forças Armadas num momento como esse. O presidente Jair Bolsonaro é uma figura muito peculiar. Tem uma personalidade beligerante e vai se mostrando, acima de tudo, não é Deus, ele, a conveniência política dele e a mania dele de competir com todo mundo. Bolsonaro não tem limites para isso. Ele demitir o ministro da Defesa, que é o amigo dele de tantos anos, o general Fernando Azevedo e Silva, numa crise da pandemia fora de controle, é inacreditável. Ele fez isso porque acha que todo mundo tem que ser submisso a ele”, afirmou a comunicadora.

    Ela reforçou o papel dos militares para a soberania do país e disse que não há como colocar o Exército, a Marinha e a Aeronáutica em meio a um jogo político. “Tem vários áudios e vídeos do presidente dizendo: ‘eu sou o presidente, eu que mando e não abro mão da minha autoridade’. Aí ele quer mandar as Forças Armadas servirem e estarem de joelhos para fazer tudo o que ele quer. As Forças Armadas são instituições de Estado. Não são instituições de um governo. Tanto que serviram perfeitamente no governo Lula, no governo Dilma, assim como já tinham servido no governo Fernando Henrique, Itamar e Collor. Bolsonaro confunde as coisas. Ele quer manifestações de apoio, de solidariedade e diz ‘o meu Exército’. Isso nas Forças Armadas pega muito mal”, declarou.

    Questionada por MK, Cantanhêde afirmou que Bolsonaro busca forças subservientes para implementar um projeto autoritário. “A gente estranha o fato dele ter demitido todo mundo ontem, de manhã ainda, e agora, 24h depois, ainda não tem o nome dos substitutos. É sinal de que ele não vai seguir a regra da antiguidade, uma regra muito preciosa nas Forças Armadas, e que ele está buscando pessoas mais facilmente submissas à vontade dele. Se fosse pela antiguidade e juntando antiguidade, posto e competência, você já teria na Aeronáutica o nome do brigadeiro Marcelo Damasceno, o chefe do Estado Maior da Aeronáutica, que é um homem super respeitado e naturalmente aceito pela tropa”, disse ao jornalista.

    “Na Marinha, ele poderia, por exemplo, escolher o almirante Almir Garnier, que é o mais antigo e o secretário-geral da Defesa, também homem super respeitado, grandes cursos e notas. Mas ele está demorando. Os próprios militares entendem como uma busca de pessoas que estejam dispostas a ser Pazuellos. Vamos ver os nomes que saem, que já saem com uma desconfiança”, acrescentou.