Dilma busca novos negócios e saídas para crise em Bruxelas

A presidente Dilma Rousseff deve aproveitar a ida a Bruxelas nesta quarta-feira (10) para tentar reforçar a agenda positiva do governo e buscar acordos comerciais que possam ajudar o país a sair da crise, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil. Até quinta-feira (11), a presidente participa da cúpula União Europeia – Celac (que reúne países da América Latina e do Caribe), sua primeira reunião fora do continente americano no segundo mandato.

Os especialistas afirmam que, com a crise econômica, o governo precisa expandir seus negócios. Por isso, está sendo obrigado a buscar uma política comercial mais agressiva com outros países – já foram anunciadas acordos com China e México. Na Europa, a expectativa é de que avancem as negociações para o tratado de livre comércio entre Mercosul e União Europeia – que se arrastam desde 2010, com forte resistência da Argentina.

Em entrevista à rede alemã Deutsche Welle, Dilma disse que, em Bruxelas, os países do Mercosul devem marcar o prazo para entregar suas ofertas do acordo. “Do ponto de vista do Mercosul, principalmente do ponto de vista do Brasil, é prioritário, neste ano de 2015, que a gente chegue a esse acordo”, disse. Para isso, a presidente falou até na possibilidade de fazer um acordo com “ritmos diferenciados” – ou seja, o Brasil e outros países iniciariam a negociação sem a Argentina, que poderia aderir depois.

Na chegada à Bruxelas, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, disse que, em seu discurso, a presidente deve dizer que o Brasil está pronto para a troca de ofertas com a UE. Em reuniões bilaterais com líderes europeus – ela tem encontro marcado com a chanceler alemã Angela Merkel, por exemplo -, Dilma deve pedir que isso seja feita até julho. “Seria o ideal (a Argentina) aceitar, mas se não quiserem aceitar, ou vem ou vai ficar”, disse a ministra.

A preferência do governo, no entanto, é fazer a negociação incluindo a Argentina. “Mas é uma grande mudança, a crise forçou o governo a repensar a estratégia dos últimos 12 anos”, diz o professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo Oliver Stuenkel. “Antigamente, o Brasil tinha uma postura rigorosa de fazer acordos multilaterais. Agora está se abrindo mais para a possibilidade de acordo bilaterais.”

Agenda positiva

A viagem também serve, seguindo especialistas, para anunciar medidas que possam melhorar a imagem do governo. “Essas viagens integram a agenda positiva, tentam tirar o foco da questão interna – inflação alta, desemprego – e jogar nas viagens, que sempre trazem notícias positivas, como convênios”, diz o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-RJ.

Dilma embarcou para a Europa no mesmo dia em que o governo lança um pacote de concessões privadas que também integra a “agenda positiva” – e para o qual precisa atrair investidores. “A Lava Jato vai abrir muitas oportunidades na área de infraestrutura e construção civil, porque algumas construtoras não vão aguentar. Falta saber se os investidores estrangeiros já vão se sentir seguros a ponto de ir para o Brasil”, diz o cientista político Fernando Abrucio, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

 

Com informações da BBC Brasil