Advogado diz que professor do Vieira foi proibido de ir à colação de grau dos alunos

Baiana FM - Nailan Brasil / Foto: Rota do Sertão

O advogado criminalista e trabalhista Leite Matos falou, na noite desta terça-feira (13), no programa Baiana no Ar, sobre o afastamento do professor Marivan Santos, do Colégio Antônio Vieira (CAV), em Salvador. Segundo ele, que atua na defesa do docente, a instituição proibiu o professor de acompanhar a colação de grau dos alunos nesta quarta-feira (14).

“Ele foi impedido por meio de um comunicado do colégio, sendo proibido de ir à solenidade dos alunos que foram dele. Isso depois dele soltar uma nota pública para as emissoras de rádio e televisão e para o Ministério Público, liberando o celular dele, inclusive, para investigação profunda”, informou.

A respeito do caso, Matos explicou que o professor não sabia que se tratava de um grupo de alunos do CAV no WhatsApp, que recebeu uma mensagem com a inclusão do seu nome no grupo e apenas deu uma resposta à mensagem ‘O candidato de Marivan é r*la’. “Ele respondeu à pessoa que mandou a indignidade contra ele com a frase ‘Meu candidato é minha p*ca’, apenas, e logo saiu do grupo”, afirmou.

Segundo o advogado, a situação prejudicou o professor que tinha 20 anos de docência na instituição, e fez com que os alunos do cursinho pré-vestibular para medicina, do qual Marivan é proprietário, deixassem de frequentar as aulas.

“É um dano sem precedentes, além do prejuízo financeiro e moral. A escola não procurou saber realmente o que tinha acontecido. Os alunos estão indignados por não terem a presença do professor amanhã na colação de grau deles”, lamentou o jurista. “Ele sempre foi respeitado na instituição. Tem uma filha que foi formada no colégio e foi diretor da Associação de Pais e Mestres e também da Comissão dos Professores”, assinalou.

Leia a carta divulgada pelo professor Marivan:

“Meus amigos, meus alunos e minha família

Tenho a obrigação de esclarecer a sociedade baiana a execração pública que estou sofrendo sem ter cometido sequer um deslize, tanto como professor, como também na condição de cidadão. Em data de 19 de setembro próximo passado, enquanto aguardava servir o jantar, abri o whatsapp, naquele momento tive uma surpresa bastante desagradável, alguém dizia o seguinte: “O candidato de Marivan é rola”, com o impacto da agressão fútil e constrangedora respondi o seguinte: “meu candidato é minha P”; que naquele momento fiquei muito irresignado com a injusta agressão, até porque desconhecia que tinha um candidato que postulava um cargo eletivo com esse nome, e naquele momento levado pela irresignação da agressão que sofri, na mesma hora saí do grupo, do qual fui adicionado sem meu consentimento.

Desejo informar a todos os meus alunos, aos pais do Colégio Antônio Vieira e a sociedade como um todo que nunca fiz parte desse grupo de whatsapp e logo em seguida a tomar conhecimento da afirmação postada no grupo a meu respeito, comecei ser vítima de um discurso de ódio, calúnia e difamação e a sofrer prejuízos morais e financeiros, e fui demitido injustamente do quadro de professores do Colégio Antônio Vieira, onde trabalhei por duas décadas.

Daí, disponibilizo meu aparelho celular para qualquer perícia, porque jamais fiz algum comentário que atingisse qualquer cidadão, seja: heterossexual, homossexual, bissexual, ou por sua opção religiosa, opção política, negros ou índios. Compreender é difícil!!! Sobretudo quando pautei a minha vida sempre buscando como minha principal atividade a educação, sempre tive um bom relacionamento com a direção do Colégio que ensinei por tantos anos, em que fui membro da comissão dos professores por mais de 10 anos e atual diretor da associação de pais e mestres.

Sou pai de uma filha que está sofrendo, juntamente com sua mãe, minha mulher, por um discurso de ódio e calúnia contra a minha pessoa, e proponho que seja realizada uma investigação profunda por parte do colégio e do Ministério Público. A execração pública que estou sendo vítima extrapolou a portaria do colégio e hoje se tornou uma matéria nacional, e que necessita que seja buscada a verdade real, não para me proteger, porque minha vida já está destruída, mas para dar tranquilidade aos professores baianos para que possam continuar fazendo educação com a certeza de que não serão vítimas de um discurso de ódio, de injúria, calúnia e difamação.

Compreender é difícil!!! Prometi aos meus amigos e minha família que não vou responder as calúnias de quem quer que seja, entretanto contratei os escritório profissional do Dr. Leite Matos para que conceda a oportunidade a todas as pessoas que estão me difamando que provem na justiça.

Att. Marivan José Santos, professor demitido do Colégio Antonio Vieira”.

Entenda o caso

De acordo com o jornal Correio, o professor foi acusado de ser um dos integrantes do grupo de WhatsApp “Direita Delirante”, que conta com 120 alunos da escola, onde houve troca de mensagens de apologia à tortura e violência contra mulheres e indígenas, que chegaram ao conhecimento de alguns professores no início do mês. Uma professora do colégio foi alvo das ameaças numa dessas conversas.

Confira a nota do Colégio Antônio Vieira:

“O Colégio Antônio Vieira externa o seu repúdio às mensagens ofensivas postadas no grupo de WhatsApp por alguns alunos, que chegaram ao conhecimento da Direção nesta semana. Esses conteúdos são contrários aos princípios cristãos, que norteiam a nossa prática educativa.

Estamos apurando o ocorrido com alunos, familiares e educadores a fim de elucidar a questão, visando tomar todas as providências cabíveis diante dessa situação lamentável. Ratificamos que os discursos desse grupo não representam os princípios da nossa comunidade educativa. Reafirmamos o nosso empenho em prol da formação de cidadãos comprometidos com valores éticos e com a transformação da nossa sociedade.
Atenciosamente,
Direção do Colégio Antônio Vieira”.