Por falta de vacina, quase 36 mil pessoas estão com 2ª dose ameaçada em Salvador

    A demora no envio de um novo lote da vacina CoronaVac para a Bahia pode resultar no atraso da aplicação da segunda dose em quase 36 mil soteropolitanos. A informação foi divulgada por Léo Prates, secretário de Saúde de Salvador. “Só conseguimos garantir a segunda dose até quinta”, alertou. Por enquanto, o problema atinge apenas aqueles que estão sendo imunizados com a CoronaVac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa SinoVac e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan. Os estoques de segunda dose da Oxford/AstraZeneca têm previsão de durar até 07 de maio.

    Essas 35.938 pessoas, precisamente, estão programadas para tomar o reforço entre os dias 1º a 03 de maio. São 13.142 no sábado, 7.661 no domingo e 15.135 na segunda-feira. Na programação da sexta-feira (30), segundo Léo Prates, praticamente só há pessoas que precisam tomar o reforço da AstraZeneca, envasada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Por conta do estoque desse imunizante, não é cogitada a suspensão da aplicação de primeiras doses em Salvador.

    Segundo a prefeitura, há 15 dias não são enviadas novas doses da CoronaVac, o que explica a escassez. A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) informou que a data de envio de vacina é com o Ministério da Saúde. A pasta federal, por sua vez, foi procurada pela reportagem, mas não afirmou quando um novo lote será enviado. Já o Instituto Butantan diz que só recebeu insumos para a produção de vacinas no dia 19 de abril. “Um novo lote será entregue a partir do próximo dia 3 de maio, após passarem pelo processo de controle de qualidade”, garante a entidade.

    Se a previsão do Butantan se confirmar, Salvador só terá CoronaVac na próxima semana e quem tiver de tomar a segunda dose desse imunizante até a própria segunda-feira, 03, pode ficar prejudicado. “Não é o ideal. O correto é tomar no prazo”, alerta o infectologista e professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Claudilson Bastos.

    “Eventualmente, se passar um tempo, o que não deve acontecer, tem que tomar de qualquer jeito e o mais rápido possível”, explica.

    O CORREIO perguntou a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) a quantidade de doses da Coronavac que ainda restam na capital, mas esse levantamento ainda está sendo finalizado. “No entanto, a expectativa é de que o atual estoque esgote na próxima quinta-feira (29)”, confirmoui a pasta, em nota.

    Leia mais: O que acontece com quem não toma a segunda dose da vacina contra a covid?

    Ansiedade 
    O corretor de imóveis Vilmário Ferreira Lima, 63 anos, é uma das pessoas que precisa tomar o reforço da CoronaVac até a segunda-feira. Ele recebeu a primeira injeção no início de abril, no posto fixo do Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge). No dia, chegou cedo e acabou não pegando fila. “Foi tranquilo”, lembra. O que ele não imaginava, na época, é que logo a segunda dose iria deixá-lo, hoje, longe da tranquilidade.

    “Estou muito apreensivo. A gente cria a expectativa muito grande para tomar essa segunda dose, que é a etapa final. E agora fica o medo de não saber quando vai tomar. Sei que temos que continuar tendo todos os cuidados mesmo imunizado, mas eu queria tomar logo para me sentir mais confortável, ficar tranquilo. A vacina é uma esperança de vida”, diz o idoso.

    Parte da frustração de Vilmário tem raiz na comparação da realidade brasileira com a de outros países que apostaram na vacinação como uma resposta concreta à pandemia. “Eu acho que se a gente tivesse uma liderança, nós hoje já estaríamos com mais pessoas vacinadas. O governo federal evitou vacinas e isso nos deixou desprotegidos. Faltou liderança para deixar o povo tranquilo. Enquanto países como EUA estão com vacina sobrando, a gente tem que passar por isso”, lamenta.

    Importância
    Especialistas alertam que cumprir o calendário vacinal é importante para garantir uma imunização efetiva. No início do ano, por exemplo, o Instituto Butantan disse que não garantia eficácia da CoronaVac se a segunda dose fosse adiada.

    O alerta do Instituto aconteceu depois que o secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, sugeriu, em entrevista à TV Globo, que a cidade poderia usar de uma vez só as 230 mil doses da CoronaVac destinadas ao município, na época. Isso dobraria o número de vacinados previstos, mas poderia não garantir a entrega da segunda dose para todos dentro do prazo estipulado. A proposta acabou sendo arquivada.

    No entanto, em março, com o objetivo de ampliar o número de vacinados no Brasil, o Ministério da Saúde autorizou que estados e municípios usassem imediatamente, como primeira dose, as vacinas que estavam armazenadas para o reforço. Na ocasião, a pasta emitiu uma nota afirmando que a medida foi feita após garantia da segurança das entregas por parte dos fornecedores.

    Em suma, o governo previa que o ritmo de chegada das novas doses seria acelerado, o que não se concretizou. Nesta segunda-feira (26), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga admitiu que há preocupação com a falta da 2ª dose da vacina Coronavac. Em audiência pública no Senado, ele citou atrasos na entrega de novos lotes do imunizante envasado pelo Instituto Butantan. Nas últimas semanas, municípios de Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte, São Paulo, Amapá e Paraíba limitaram ou suspenderam a imunização por falta de doses para a segunda aplicação.

    Responsabilidade 
    Em nota, o Ministério da Saúde disse que a estratégia de vacinação é definida a cada nova pauta de distribuição, semanalmente, entre governo federal, estados e municípios. “A pasta ressalta a importância de seguir essas recomendações semanais para que ocorra a imunização completa dos grupos prioritários. O Ministério da Saúde reforça que, para concretizar a distribuição de doses, depende da entrega feita pelos laboratórios fabricantes”, diz o texto.

    Já o Instituto Butantan esclareceu, também em nota, que é o Ministério da Saúde o responsável por planejar e coordenar a campanha de vacinação contra a covid-19 no Brasil.

    “Todo o esquema vacinal, definição de públicos-alvo e de intervalos entre as doses, assim como a logística de distribuição das vacinas aos estados e as devidas orientações técnicas sobre a vacinação, competem à pasta federal”, afirma o centro de pesquisas.

    No total, o Butantan já entregou 41,4 milhões de doses da Coronavac ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério e, até o final de agosto, o serão 100 milhões de doses entregues, no total, segundo o instituto.

    Sobre os atrasos nas doses, o MInistério da Saúde afirmou também que a população deve tomar a segunda dose da vacina mesmo que a aplicação ocorra fora do prazo recomendado pelo laboratório. “Essa é a orientação do Ministério da Saúde, que reforça a importância de se completar o esquema vacinal para assegurar a proteção adequada contra a doença”, disseram. As recomendações estão em uma nota técnica divulgada nesta segunda-feira.

    A Sesab também foi procurada para se manifestar sobre o assunto e dizer como está a aplicação da segunda dose em outros municípios da Bahia. A pasta informou que não possui doses da CoronaVac em estoque e que aguarda envio do Ministério da Saúde.

    Jornal Correio*