A infertilidade entre homens e mulheres ainda é pouco falada, expor sobre o impedimento de gerar filhos pode ser difícil e até considerado um tabu. Conforme a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), no Brasil, cerca de 8 milhões de indivíduos podem ser inférteis. Dados do relatório do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (Desa), das Nações Unidas (ONU), publicado em 2019, advertem sobre a baixa da taxa global de fertilidade nos últimos anos.

Com o avanço das tecnologias reprodutivas como o congelamento de óvulos, fertilização In vitro, inseminação artificial e injeção intracitoplasmática de espermatozóides (ICS), o desejo de ter filhos pode se tornar realidade. A principal vantagem do uso dessas técnicas é o aumento de chances de obter uma gravidez, mesmo em casos de problemas de fertilidade.

O assunto foi tema do quadro “Momento do Especialista” desta quinta-feira (18), que teve a participação de Sofia Andrade, ginecologista e especialista em Reprodução Humana do Cenafert – Centro de Medicina Reprodutiva que iniciou explicando quais são os primeiros passos a serem dados para os procedimentos caso as tentativas naturais não funcionem.

“O primeiro passo é uma consulta com o especialista em reprodução assistida. Porque, a partir daí, nós vamos solicitar alguns exames de investigação que não são os exames habituais do dia-a-dia de rotina ginecológica. Então, a partir disso nós conseguimos, às vezes, descobrir algumas causas dessa infertilidade. E aí a gente faz um tratamento mais assertivo direcionado para aquela causa. Muitas vezes, através de tratamentos como esse encontro de fertilização in vitro, a gente consegue resolver o problema do paciente, mas mesmo quando isso não é possível, seguimos para outra programação de tratamento”.

A idade pode ser um ponto delicado para as tentativas de engravidar pela R.A. As mulheres cisgênero já nascem com uma quantidade de óvulos específica que vai se esvaindo ao longo dos anos de forma natural, diminuindo a chance de engravidar a cada ciclo menstrual. Após os 35 anos, essa baixa da fertilidade se intensifica.

“Já nascemos com todos os óvulos que vamos ter e vamos perdendo isso ao longo do tempo, ovulando ou não, usando anticoncepcional ou não, a gente vai perdendo isso a cada dia, então quando a gente chega em uma certa idade reprodutiva, o que sobra já são aqueles óvulos que não foram utilizados no início da nossa vida reprodutiva, sendo os óvulos de uma qualidade menor, o que não quer dizer que sejam todos ruins.Então, às vezes a paciente vai ter uma dificuldade para engravidar e, uma vez engravidando, ela acaba tendo, por exemplo, um risco mais alto de abortamentos e por aí vai”, explicou a ginecologista.

“O Conselho Federal de Medicina, ele recomenda o tratamento em pacientes mulheres de até 50 anos. E quando existe uma idade que vai, além disso, a gente tem que avaliar de forma muito individualizada, checar como está a condição dessa paciente, se ela possui comorbidades ou não. Fazer uma avaliação em conjunto com o cardiologista, com o próprio obstetra que vai acompanhar ela para o futuro. Então, passados de 50, a gente individualiza bastante”, explicou Sofia.

VALORES:

No Brasil existem 181 Centros de Reprodução Humana Assistida (CRHAs) e somente dez oferecem tratamento pelo SUS. O estado de São Paulo possui o maior número destes centros, contando com 60. Na Bahia as opções são mais limitadas, existem alguns ambulatórios ao nível público que fazem o acolhimento, investigação e o encaminhamento desses pacientes para realização de algumas cirurgias. A rede de saúde particular é a qual disponibiliza um leque de variedades no sistema de fertilização.

“Então, aqui na Bahia, o que a gente consegue fazer em nível público é a realização dos coitos programados, das relações sexuais programadas num período fértil da paciente. Já ao nível privado, enfim, existem todas essas técnicas de coitos programados, inseminação intrauterina, como eu falei, fertilização imitronal e genética de um embriãozinho” disse Sofia Andrade.

Os valores deste tipo de tratamento nem sempre são baixos, podem variar conforme as clínicas de reprodução assistidas, que segundo a Resolução n.º 1.974/11, do Conselho Federal de Medicina (CFM), são proibidas de divulgar os valores dos preços de fertilização in vitro e outros procedimentos, porém de acordo com um levantamento de clínicas o preço pode ultrapassar R$ 70 mil. Ao contrário do que muita gente pensa, o método para alcançar a gravidez não é escolhido pela paciente – é uma indicação médica.